Dico calça as chuteiras e sai para fazer o que mais gosta: jogar futebol. Em campo, o menino magrinho, de 11 anos, é dono de si e da bola. Ele dribla, cabeceia, empurra e mira no gol. Na ocasião, a pequena platéia da cidade de Bauru (interior de São Paulo) não fazia ideia que nascia ali Pelé, o maior atleta de todos os tempos. Mas foi nos gramados da Vila Belmiro que ele se tornou Rei.
“Eu sonhava em jogar como meu pai”, confidenciou Edson
Arantes do Nascimento, mineiro da cidade de Três Corações, filho de Celeste e
do conhecido jogador Dondinho. Edson teve uma surpresa, porque Pelé foi muito
além. Superou seu próprio sonho e, até mesmo, a promessa de ganhar uma
Copa do Mundo para seu pai. “Na final da Copa de 50, o Brasil perdeu para o
Uruguai e meu pai ficou muito emocionado.Quando eu o vi em lágrimas, só pude
pedir para que não chorasse porque eu iria ganhar uma Copa do Mundo para ele”,
lembrou o Rei, que saiu campeão de três Copas do Mundo, colecionou mais de 50
títulos e 1.281 gols em sua gloriosa carreira.
Aos 11 anos, Pelé foi
descoberto pelo jogador Waldemar de Brito que o convidou a fazer parte da
equipe que estava organizando: o Clube Atlético de Bauru.
Quando o Atleta do Século XX, ainda aos quatro anos,
mudou-se para São Paulo com sua família, Dondinho passou a atuar no Bauru
Atlético Clube (BAC). Seguindo os passos maestrais de seu pai, Dico brilhou em
equipes amadoras da região, como Ameriquinha e Baquinho, e sua intimidade com a
bola o fez conquistar títulos de artilheiro e um novo apelido: Pelé.
Em pouco tempo, os pés daquele menino franzino e de
uniformes folgados no corpo tomariam um novo rumo. Aos 11 anos, Pelé foi
descoberto pelo jogador Waldemar de Brito que o convidou a fazer parte da
equipe que estava organizando: o Clube Atlético de Bauru. Para selar
compromisso com o destino, o mesmo jogador que o descobriu, o levaria, anos
depois, para o Santos FC.
Assim que Pelé (foto) chegou à Vila Belmiro, em oito de
agosto de 1956, Waldermar de Brito avisou ao clube santista: “Esse menino vai
ser o melhor jogador de futebol do mundo”. Não demorou muito para a profecia
começar a se concretizar. Um mês depois de sua chegada ao alvinegro praiano,
que já era um time bicampeão paulista, Pelé estreou na equipe principal. “Minha
estréia foi em um torneio amistoso contra o Corinthians de Santo André. Entrei
no segundo tempo, no lugar de Del Vecchio e fiz o sexto gol do placar de 7 a 1.
Foi meu primeiro gol com a camisa do Santos”, contou.
Aos 16 anos, participou de um torneio de quatro equipes
européias e brasileiras. O time em que atuou foi um combinado Santos e Vasco e,
em uma das partidas, Pelé fez três belos gols. Daí em diante, o Brasil todo
começou a enxergar o futuro Rei do Futebol.
Convocado para usar a camisa verde e amarela, em 1957, Pelé
levou o país a conquistar o título de campeão da Copa Roca. “Foi meu primeiro
título internacional e com a camisa da Seleção Brasileira”, lembrou. O sucesso
continuou aos pés de Pelé durante a disputa do Campeonato Paulista de 57, do
qual foi artilheiro. “Já no meu primeiro campeonato, fiz 36 gols. Para um
garoto de 16 para 17 anos, essa é uma grande conquista”, declarou o dono da
imortalizada Camisa 10.
Pelé conquista o mundo Em menos de um ano, Pelé viu-se
diante da grande oportunidade de concretizar a promessa que havia feito a seu
pai: ganhar uma Copa do Mundo. Seu primeiro gol na Copa foi contra o País de
Gales e classificou o Brasil para a semifinal. Na final da Copa de 58, a
Seleção Brasileira conquistou seu primeiro título mundial depois de ter goleado
a anfitiriã Suécia por 5 a 2.Pelé não agüentou e desmaiou em campo (na foto
acima Pelé e amparado por Gilmar). “A emoção de participar de algo tão
grandioso foi tão importante para mim que nem consigo expressar.
Foi a primeira
vez que fiz uma viagem para o Exterior e, ainda, realizei meu maior sonho. Com
17 anos, tornei-me o mais novo campeão do mundo. Além disso, levamos o nome do
Brasil para fora e demos abertura para outros negros participarem da Copa,
pois, até então, eu era o único “, declarou o Rei.
Após ter concretizado o que mais almejava, Pelé tinha mais
duas metas: conquistar o Campeonato Paulista de 58 e o Torneio Rio-São Paulo
pelo Santos Futebol Clube. Formado por jogadores como Coutinho, Zito, Pepe e o
Rei, o time praiano mantinha-se imbatível e vivia sua melhor fase. Pelé (foto)
foi o artilheiro do Paulista de 58 com o total de 58 gols, em 38 partidas, e o Santos
conquistou o título.
A história repetiu-se em 1959 e o Peixe saiu vitorioso, pela
primeira vez, no Torneio Rio-São Paulo. Entre os anos de 59 e 61, o Santos
Futebol Clube conseguiu, com Pelé, conquistar 11 títulos internacionais.
Reconhecida e respeitada internacionalmente, na década de 60, a equipe santista
conquistou oito Campeonato Paulistas, e Pelé foi coroado como artilheiro em
quase todos eles.
Nessa época, o Rei do Futebol recebeu diversos convites para
atuar em times no Exterior, principalmente na Europa, mas rejeitou todos. Fiel
ao Peixe, tinha outro objetivo em mente. “O Santos ainda não tinha título de
campeão sul-americano e eu sonhava em dar esse título ao clube”, afirmou. Em
1962, mais uma meta atingida: o time foi campeão sul-americano, goleando a
equipe uruguaia do Peñarol, que havia sido campeã em 60 e 61.
No mesmo ano, mais uma Copa do Mundo à vista e Pelé era o
grande nome do momento. Devido à uma distensão, ele não pôde jogar na final,
mas o elenco saiu vitorioso e bateu a Tchecoslováquia por 3 a 1, no Chile. O
Brasil passou a ser Bicampeão Mundial. “Fiquei muito preocupado e muito
chateado por não ter podido ajudar meus colegas. Mas, graças a Deus, o Brasil
conseguiu seu segundo título e fiquei muito realizado”, afirmou Pelé.
Na Copa do Mundo seguinte, em 1966, a Seleção Brasileira
viveu um pesadelo: foi eliminada logo na primeira fase. “Foi uma tristeza muito
grande para mim, pois eu já era o Pelé e a cobrança era muito grande. Tanto,
que eu pensei até em desistir de jogar”, afirmou Pelé.
Em 1970, o Brasil passava por uma das fases mais difíceis da
história com a ditadura militar. Indiscutivelmente, Pelé (na foto comemorando
gol com Tostão) na Copa era a esperança de dias melhores para os brasileiros.
“Muitas pessoas me incentivaram a participar da Copa de 70. É claro que senti
todo o peso da responsabilidade nas minhas costas, pois a seleção já vinha de
uma derrota”, lembrou o Rei. Finalmente, o Brasil conquistou, definitivamente,
a Taça Jules Rimet, vencendo a final contra a Itália, por 4 a 1, no México.
“Foi a melhor fase de toda a minha carreira. Joguei em todas as partidas e
finalizei minha participação nas Copas do Mundo extremamente realizado”,
afirmou Pelé, único tricampeão do mundo e maior artilheiro em Copas Mundiais.
Aos 22 anos, o Rei já atingia a marca de 500 gols. À medida
que o tempo ía passando e Pelé aproximava-se da marca dos mil gols, as pessoas
vibravam. “Quando fui me aproximando do milésimo gol, todos fizeram questão de
transformar isso em um grande tema”, afirmou Pelé. O tão esperado gol foi um
pênalti fulminante, durante o jogo do Santos Futebol Clube contra o Vasco, no
Maracanã, em 19 de novembro 1969. “Pela primeira vez, tremi. Nunca senti uma
responsabilidade tão grande”, completou o Rei (na foto beijando a bola
após marcar o miléssimo gol de sua carreira).
Deixando pegadas de glória e saudade pelo Brasil, sua
despedida oficial da Seleção foi em julho de 1971. Três anos depois, chegou a
vez do Rei dar adeus ao Santos FC, em outubro, durante a partida contra a Ponte
Preta. É uma das imagens mais marcantes de Pelé: ele está ajoelhado no meio do
gramado do Estádio da Vila Belmiro, de braços abertos e com a bola parada no
chão diante dele. Pelé, aos soluços, pede perdão (foto). É o fim de um
casamento de 18 anos, seis meses e 26 dias.
Entretanto, a magia do futebol daquele homem que, com seus
pés de ouro, fazia arte em campo, ficará imortalizada pelos gramados da Vila
Belmiro e na memória daqueles que o assistiram. Porque quem é rei, nunca perde
a majestade. Porque Pelé é eterno. “Sinto muita saudade daquela época,
principalmente dos meus amigos de equipe. Realmente, isso me deixa muito
emocionado”.
Fonte: http://santosfc.com.br/pele/











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